Contabilidade geral

12 dezembro, 2006

Às vezes eu sinto uma falta...

Às vezes eu sinto uma falta de mim aos 17 anos. Fico lembrando o quanto eu era sonhadora, esperta, romântica, insegura, cheia de planos. Lembro o que me tirava o sono, o que me fazia suspirar, o que me deixava feliz. Lembro especialmente e com muito carinho das minhas paranóias adolescentes.

Às vezes eu sinto falta das músicas que eu ouvia aos 20 anos. Tenho saudades das minhas limitações e da minha melancolia, já que eu era uma chorona aos 20 anos.

Meus amigos dos 23 anos continuam vivendo no meu coração. Alguns deles nem aparecem pra dar uma faxina ou pagar o condomínio, mas a vaga está lá, guardadinha. Minha turma adolescente chegou um pouco tarde, mas são pessoas que participaram da minha “adultescência” com muito carinho.

Sinto falta dos pequenos problemas que eu costumava achar seríssimos aos 24 anos. Sinto falta dos dramas que eu criei. Sinto falta do quanto eu podia ser forte e defender posições. Sinto falta das brigas bobas que eu comprei e do arrependimento sincero que veio de quase todas elas. Amadurecer faz a gente se conformar mais? Ou faz a gente ficar mais covarde? Ou a gente consegue avaliar melhor que briga vale a pena brigar?

Tem situações que acontecem, hoje, do alto dos meus 28 anos, que me mandam direto para o túnel do tempo. Me comporto como a menininha birrenta dos 20 anos, que queria estar sempre certa. Ou me comporto como a romântica desesperada dos 16, que precisava ter certezas sobre coisas naturalmente erradas ou incertas. Ou me comporto com a insegurança dos 24 anos, precisando de outros pra confirmar minhas vontades. Ou me comporto como a lerdinha que era aos 15, incapaz de dizer o que queria ou precisava, com medo de ouvir não. Mas apesar de tudo isso, sinto falta de todas elas.

Em sempre digo isso: essa história de crise de adolescência pra mim é mito. Vai ficar adulto pra ver. Ficar adulto é que é crise de verdade. Na adolescência a gente tem muito tempo, então os problemas normais viram aliens. Tornar-se adulto é muito mais difícil. “Adultescer” não tem nem as desculpas que a gente usa na adolescência (hormônios, espinhas, blá, blá, blá). É cada um por si, my brother.

Crescer é assumir o rumo da vida ou assumir que a vida está totalmente sem rumo. É descobrir que vamos ter que lidar com nossos problemas, de qualquer tamanho, quase sempre por conta própria. Ficar adulto significa, inclusive, constatar que alguns dos nossos sonhos mais caros não se tornarão realidade, não nessa vida.

De qualquer forma, meu eu de hoje é mais equilibrado, menos dramático, mais realista, mais racional e não menos romântico. Meu eu de hoje está mais inteiro e isso só pode ser uma coisa boa.

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